Crianças Pelo Mundo - Soweto

As crianças falam uma linguagem universal que os adultos tendem a esquecer. Respondem a estímulos tão simples como um sorriso, um piscar de olho… ou uma máquina fotográfica na mão.

Numa rua de Orlando West, Soweto, às 16h00, quase só há crianças na rua. Andam de bicicleta, jogam à bola ou tão-somente correm pela rua. Eu e os meus vizinhos costumávamos fazer o mesmo quando tínhamos a mesma idade.

Aqui, desfaço quase todas as generalizações ouvidas antes sobre o Soweto. São mais de 1,2 milhões de pessoas divididas em mais de 30 bairros. Demasiados grandes para caberem em qualquer generalização.

E aqui, com uma máquina fotográfica na mão, não preciso de pedir para fotografar – são elas, as crianças, que pedem.

A fotografia não a querem receber por email, nem a vão colocar no facebook ou instagram. Conceitos que devem ser estranhos nesta idade.

Atrás de uma portão, há um que grita “can you shoot? Can you shoot?” (“podes fotografar?”) Tem entusiamo mas também tem um pouco de provocação, de se estar a meter com o estranho.

- Queres que te fotografe?
- Podes fotografar-me? Ele vai fotografar-nos!

E chegam mais ao portão. São quatro, naquilo que imagino ser a casa de alguém que cuida de crianças. Não todos com o mesmo à-vontade deste artista.

- Querem todos que vos fotografe?

Riem, possam e fazem… criancices. Eu só fotografei sem lhes pedir nada e por isso estamos assim: eles atrás do portão como estavam e eu à distância que a lente mandava (objetiva de distância focal fixa)

Depois de acertar, ou de achar que estava a abusar do momento, parei.

- Outra vez! Outra vez!

- Queres que fotografe outra vez?
- Outra vez!

E quando me aproximei, um deles desapareceu, e voltou trazendo mais uma menina. Levantou-a tão alto quanto podia, para também ela poder ser fotografada. Como se ali, ao lhe permitir ser fotografada, lhe tivesse a permitir um prémio. Quando o premiado da tarde era claramente eu.

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