Mostar: a melhor entrada na Bósnia-Herzegovina


Mostar é um local quase obrigatório para uma viagem deste género pelos Balcãs.

Houve um momento da minha viagem em que, pela primeira vez, fiquei a olhar para o nada e a pensar como a vida é linda e imprevisível. Foi em Mostar! E não é que antes não tivesse sido. Mas em Mostar, olhando para a Stari Most, houve algo de diferente.

Já aqui contei que fui para a Macedónia apenas porque queria um sítio para começar a viagem e passei pela Albânia apenas por ser o mais lógico caminho rumo a norte. A verdade é que já não preciso de grandes motivos para viajar para um local - a viagem é o motivo em si. E não sinto qualquer necessidade de ir aos locais mais populares e aos locais de maior desejo popular apenas para dizer que fui, para me gabar ou conquistar atenção numa conversa. A viagem. Eu vou pela viagem.

E na minha primeira noite em Mostar, tendo chegado já ao final da tarde, com uma hora de atraso e com tempo apenas para me instalar e jantar, com as ruas já quase desertas, dei por mim, expectado, maravilhado e sem reação a olhar para a ponte velha, o maior símbolo da cidade. Quem poderia dizer, há três anos, que estaria eu num sítio como Mostar, que nem sabia existir?

Mostar é a maior cidade da região de Herzegovina e a primeira porta de entrada na Bósnia-Herzegovina para quase todos aqueles que vem de Sul, de Montenegro, Dubrovnik ou Split. Mais do que isso, é uma cidade encantadora, cujo a ponte velha é o maior símbolo e um dos locais simples e mais belos que já vi, mas não o único de interesse. E antes de tudo isso, é uma cidade carregada de história.

Uma história que recentemente ficou marcada por guerra e bombardeamentos, hoje ainda visíveis em vários edifícios. Em 1992 a Bósnia-Herzegovina declarou a sua independência da então Jugoslávia, o que desencadeou um sangrento conflito com Bosniaks de um lado e do outro bósnios sérvios e bósnios croatas, apoiados pelo exército croata e pelo exército jugoslavo (lembrando que a região é habitadas por vários povos e daí vêm estas designações). E apenas no final de 1995 a guerra chegou a um término depois de mais de 100 mil mortes, a maioria bosniaks, constituindo o maior genocídio na Europa depois da Segunda Guerra Mundial.

A Stari Most foi também uma das vítimas da Guerra da Bósnia.

Não é por acaso que os nomes se parecem. O nome de Mostar vem de uma antiga ponte, most. Uma outra, mas esta, construída originalmente no século XVI, tornou-se o principal símbolo da cidade e um marco da arquitetura islâmica na região, pelo seu arco. Bastante impressionante considerando os meios existentes na época.

Em 1993, a ponte foi destruída pelos militares croatas. O objetivo principal era atacar um dos símbolos da cidade e do recentemente autoproclamado independente povo bosniak, mas vale também para ver a destruição desta ponte como uma metáfora e lembrar que os senhores da guerra que querem construir muros têm as mesmas razões que aqueles que querem destruir pontes, literais ou figuradas: para nos isolar. Isolados somos mais fracos.

Após essa destruição, a ligação entre as duas margens do rio ficou a cargo dos militares portugueses e espanhóis que combatiam ao serviço da NATO, apoiando os Bosniaks, até ser reconstruída em 2004. Desde então é Património Mundial da UNESCO.

O que visitar em Mostar
Em redor da Ponte Velha, sobretudo a Oeste do Rio Neretva, está o Centro Histórico de Mostar, que achei encantador, ainda que o interior de cada casa esteja repleto dos souvenirs que se podem encontrar em qualquer local, mudando apenas o nome inscrito.

Mas à parte da ponte e do centro, que são paragens obrigatórias, a minha primeira recomendação vai para o Museu da Guerra e da Vítimas do Genocídio (Museum of War And Genocide Victims). Apesar de sempre me ter interessado por estes temas, fico sempre impressionado com o tamanho dos abusos que foram cometidos e com as histórias das vítimas. E não foi longe, nem no espaço nem no tempo. Foi na Europa e terminou há 23 anos. Com pessoas que tinham a minha idade e alguns não passaram de crianças.

Mosteiro Blagaj Tekija
A uns 20 minutos de autocarro de Mostar está o Blagaj Tekija, o mosteiro construído há cerca de 600 anos, durante o Império Otomano, um local de grande beleza, tornando-se por isso um local de interesse turístico, com cafés, restaurantes e lojas nas imediações. Caso tenham tempo, sugiro que apanhem o autocarro e façam esta visita.

A melhor vista
Há muitos locais para ver a ponte, uns mais óbvios do que outros. Para mim, a melhor vista está nas traseiras da Mesquita Koski Mehmed Pasha. Para ela é necessário pagar um valor de €3, que julgo valerem bem a pena, conforme espelha a fotografia inicial deste relato.

E encantado com Mostar, decidi alterar os meus planos e incluir a capital do país no meu roteiro. Em vez de seguir para as praias da Croácia, fui para Sarajevo!


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